O conflito entre real e virtual pegou carona na viagem feita por Jarryd e Alesha. Durante uma temporada na China, a relação de sete anos entrou em um círculo vicioso de briga, desentendimento, pouco caso, raiva e ataques. Enquanto isso, nas redes sociais, tudo continuava… incrível. “O virtual pode distorcer a percepção que temos de nós. Sempre que brigávamos, olhávamos nossos posts e dizíamos: ‘mas olha como temos sorte’. Sabíamos da diferença entre esses dois mundos, mas achávamos que uma postura positiva online nos ajudaria na vida real. Não ajudou”, afirma Salem ao TAB.
Tirar a verdade do armário foi ainda mais difícil porque o casal temia comprometer a reputação construída ao longo dos anos – seguindo a infalível lei de Murphy, junto com a crise conjugal vieram os tão esperados anúncios e patrocinadores. Aí entra outra questão, que é a possibilidade de hoje qualquer pessoa com o à internet virar uma marca. Se antes só modelo fazia propaganda de xampu, hoje a garota do Instagram também faz. Se o casal sensação aparecia na capa da revista, hoje ele mostra o beijo de bom dia no Snapchat. Com essa mudança, muitos acabam colocando suas vidas na vitrine em troca de reconhecimento, presentes, patrocínio ou sabe-se lá o quê. O contador de likes sobe, e o número de seguidores, também, sem necessariamente impactar a outra vida (aquela das contas a pagar).
Considere também que a já estabelecida indústria da fama tem mecanismos para separar a pessoa física daquilo que ela representa para o público. “No caso do indivíduo comum, não há estrutura para dar e ao personagem criado. Eles ficam por conta própria dentro de figuras fictícias, atuando no palco da rede social. Lá, estão suscetíveis ao reconhecimento, ao aplauso, mas também a xingamentos, vaias e ofensas que podem atingir o emocional”, afirma o psicólogo Valter Guerra Hadad.
No caso dos viajantes Jarryd e Alesha, a história teve final feliz – ao menos até a publicação deste TAB. Os dois continuam namorando, seguiram viagem e dizem nunca ter se sentido tão próximos dos seguidores quanto agora, depois que revelaram o perrengue emocional. “Todos querem ver fotos e posts legais, mas o mundo merece a verdade. É isso que estamos tentando mostrar.” Um indicador dessa mudança pode ser visto num post recente, onde relatam suas melhores e também piores viagens dos últimos dois anos – “shittiest” (ou “mais merda”) foi o adjetivo usado para não deixar dúvidas sobre os pontos baixos do roteiro. Se a moda pega e a verdade entra para os trending topics, talvez tenhamos de tirar nossos ventiladores da sala.